Com 300 milhões de casos no mundo, dos quais 12 milhões no Brasil, a depressão é a doença psiquiátrica mais prevalente no planeta. Contudo, por sua complexidade, é ainda um enigma para a medicina. Por isso, os pequenos avanços, e na vida é muito importante celebrá-los, são tratados com extrema euforia. O mais recente deles: os exercícios físicos têm real e decisivo impacto positivo na prevenção e tratamento do problema. Um estudo publicado na revista americana Molecular Biology mostrou que a ginástica melhora a função de estruturas cerebrais envolvidas no transtorno, como o hipocampo, o hipotálomo e a amígdala, além de reduzir o processo inflamatório dos neurônios (veja abaixo). “Os achados concluem, de modo definitivo, a indicação médica dos exercícios como terapia da depressão”, diz Eduardo Rauen, médico do esporte e professor da pós-graduação de nutrologia do Hospital Albert Einstein, em São Paulo.
Os tratamentos convencionais, à base de antidepressivos, evidentemente ainda são essenciais no restabelecimento da química cerebral. Espera-se, porém, que a atividade física possa agora reduzir a necessidade de acompanhamento medicamentoso, sobretudo nos graus leve e moderado, os mais comuns, que envolvem sentimentos crônicos como tristeza, angústia, desânimo, alterações no sono e no apetite. Pesquisas indicam que não é preciso se esfalfar no treino para sentir a mudança. Os efeitos começam a surgir a partir de quinze minutos de atividade por dia, seja aeróbica, como caminhada e corrida, seja de resistência, como o levantamento de peso. O benefício é deflagrado também em atividades mais simples, como subir escada. O decisivo é a prática regular.
Mexer-se, claro, é indicado para o bem-estar em geral, e não apenas como alívio para quem não consegue lidar com a tristeza profunda. Mas saber identificar os primeiros sinais de depressão e então movimentar o corpo é vital. Celebra-se, portanto, uma outra boa-nova: pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, desenvolveram um exame de sangue capaz de detectar alterações de humor — o que incluiria aqui o transtorno bipolar. O estudo envolveu uma tecnologia com o RNA, molécula que armazena e transmite informações genéticas. O exame, ainda sem previsão de chegar ao mercado, também abre portas para a indicação precisa e personalizada de medicamentos e a resposta do paciente ao tratamento. As descobertas — a da relevância da malhação e a da precocidade do diagnóstico — reforçam a sensação de estarmos diante de uma nova era no combate à depressão.